sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Um pouco da primeira parte...

Diferentes formas de participação



Boa parte do desenvolvimento de Kerala se deve ao alto grau de desenvolvimento das estruturas participativas. Diversos níveis de cooperativas, conselhos, grupos se estruturam de forma que a enorme população do estado compartilhe alguma forma de poder local. Algumas destas estruturas são:
Kudumba Sree (Bem estar da Família): Grupos comunitários que se organizam nas vilas. Incentivados e muitas vezes patrocinados pelo governo do estado, estes grupos reúnem quase que absolutamente todas as mulheres de cada vila. O governo estadual muitas vezes inicia a formação desses grupos, que são garantidores de iniciativas de micro-crédito junto à comunidade, identificando os recursos e as habilidades locais, para incremento da renda da população.
Grama Panchyat: Conselho local, eleito por até no máximo 1000 eleitores, composto de membros que não tem vencimentos com reeleição a cada 4 anos. A perspectiva reinante é que se o numero de eleitores é pequeno, a responsabilidade (accountability) dos seus membros junto à população é muito grande. Esses grupos determinam coletivamente onde serão os investimentos a partir dos recursos do governo, usando em conjunto recursos da própria comunidade. Um dos programas mais bem sucedidos é o que usa os recursos do National Rural Employment Guarantee Program, uma espécie de bolsa-emprego de 100 dias de duração, que garante uma renda mínima de 3 dólares por dia, ou seja, três vezes acima do salário médio no meio rural. O Grama Panchyat, ao invés de abrir licitação para contratação de empresa privada, é obrigado a contratar prioritariamente as empresas do próprio Estado, que por sua vez usa os recursos do NREGP para a execução de obras. Assim, não há dinheiro em circulação nessas transações, o que diminui consideravelmente o risco de corrupção nesses casos.
Block Panchayat
Os eleitores de 4 ou 5 comunidades elegem representantes nesta câmera intermediária, regional.
District Panchayat
4 ou 5 eleitores de diversas regiões adjacentes elegem este conselho.
A natureza parlamentar da democracia indiana, faz com que a prática política seja permeada pela busca de soluções em consenso, com alto nível de fiscalização por parte dos demais pares e da população. O governo de esquerda local melhorou e complementou estas estruturas que foram em grande parte incentivadas por Rajiv Gandhi.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Casamento Indiano


Os indianos dão muita importância para as combinações astrológicas na hora de escolher seus parceiros. No casamento, não é diferente. O dote da noiva é a sua herança, e pelo menos 1600 g de ouro são necessários para assegurar a noiva um bom casamento, na classe média. Praticamente não há casamentos fora da religião da família. Os pais usam astrologia e uma ampla pesquisa da família do potencial cônjuge para escolher criteriosamente o futuro marido, ou esposa. Uma boa parte da família não dá opção aos filhos de não aceitarem o par escolhido, o que gera alguns problemas. Existe um movimento de NGOs de mulheres contra a prática do dote, apoiada por parte da mídia.

Hoje, uma atividade foi cancelada pois a filha do rotariano encarregado da atividade cometeu suicídio. Tais casos estão ficando comuns na Índia, mas para os indianos, o diagnóstico, para nós ocidentais, causa estranhamento: para eles, o casal ( a filha do rotariano estava envolvida com um rapaz da mesma universidade, que também se matou) não teve força para controlar os sentimentos, e é isso que está errado. O fato do casal resolver se suicidar pelo fato dos pais não aprovarem a união entre eles não é visto com o menor romantismo; para os indianos, o casal simplesmente "era muito jovem para saber o que queria" (19 e 21 anos, mas para os indianos, "não saber", significa "não aceitar"). Os pais, na Índia, tem um papel não apenas formador: a tutela continua muitas vezes anos após o casamento. Os filhos, em geral, acreditam que farão os pais felizes aceitando o noivo ou noiva indicada, e é isso o que para eles importa. Não se sentem seguros para resolver por conta própria com quem irão casar.

William, empresário inglês radicado em Kerala, me relata algumas situações interessantes: funcionários que pedem aumento porque precisam se casar (muitas vezes de acordo com o mapa astral) e desta forma, com um salário maior, o dote da futura noiva será igualmente maior; funcionárias que após anos de investimento por parte da empresa largam tudo porque os pais decidem que ela tem que se casar e não pega bem ela estar trabalhando, mesmo que seja bastante talentosa; empréstimos para comprar ou avalizar propriedades para fins puramente demonstrativos no currículo do futuro noivo; funcionários que aprendem a função e em seguida partem para o exterior para ganhar mais. Assim, as relações de trabalho também são afetadas pela cultura do casamento ideal: ao mesmo tempo, famílias anunciam no jornal que: a filha, de tantos anos, com doutorado, etc, cujo pai tem tal e tal graduação, cujo irmão trabalha em tal lugar e ganha X, cujo tio é político importante, que pertence à tal religião e tais e tais propriedades, procura marido de tal altura, tal cor de pele, que seja compatível ou tenha renda superior à X. Por compatível, supõe-se que: tenha a mesma religião, que venha exatamente a atender ao “sonho de consumo” ( neste caso literal!) da família e é lógico, da mesma casta, pois isso não precisa ser dito, está no sobrenome...

O que se verifica, assim, é que o casamento, ao contrário do ocidente, não é veículo de mobilidade social. A instituição serve para que as famílias consigam acumular bens e capital, e ao mesmo tempo, preservar a “casa”. A “casa” é o nome não dito, melhor dizendo, o nome da casa ancestral que se apóia na preservação das tradições religiosas e culturais dos grupos, ou porque não dizer, dos clãs que tentam se manter no domínio econômico e político na Índia.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Visita a Mundakkal East Gov School










Ajit Kumar me trouxe a esta escola, onde fui recebido muitissimo bem pelo diretor e professores- ganhei um dothi - uma linda saia! - A escola recebe do Rotary apoio para uniformes, complementação nutricional, giz, manutenção... como várias em Kerala, onde cada clube patrocina pelo menos uma. A escola mantem um quadro mostrando a evolução em "strenght" (ou seja, "força) que quer dizer o número de alunos, além de um quadro mostrando quantas são as crianças de castas desfavorecidas, uma política de inclusão incentivando a maior participação de setores de baixa renda.

O que se pode dizer é que o foco do Estado é no treinamento dos professores, mas que a infra-estrutura escolar deixa a desejar. As crianças, quando perguntadas o que mais gostavam da escola, responderam em coro "conhecimentooo!" (será que ensaiaram?) Mas a graça das crianças, arrumadas como para uma festa demonstra a importancia da educação para as famílias, o empenho das professoras era evidente, e o carinho, sempre presente.



segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Muitas visitas


Gente,

Tem sido difícil entrar na internet, com o tempo mínimo necessário para fazer um update decente das nossas atividades. O nosso cotidiano é no mínimo... intenso, contando aí as inúmeras visitas e atividades sociais que caracterizam o programa. Mas vamos lá:

Ao lado a nossa visita a Lake School, em Kollam, dia 8 de janeiro, onde fomos muito bem recebidos, como sempre, e ainda com flores, danças típicas e comida, como sempre, muita comida... o carinho das crianças e a alegria delas é incrível. Sempre estão animadas e ligadíssimas.


Fomos também visitar uma das industrias mais importantes de Kerala, a de caolim, de propriedade do Estado, também no dia 8. Na foto o Sr, Naramdalam, diretor da mina e fábrica de processamento.

O gerente da usina nos mostra o processamento de caolim a partir da mina.

Em seguida, visita à Fábrica de Processamento de Cajú "Sajam", que é uma das principais industrias de Kerala...
Este senhor aí embaixo, tem 12 fábricas de processamento de Cajú, um hotel... 13 mil funcionários... começou do mais absoluto zero, não fala inglês, mas o Sr Sajam é respeitadíssimo como homem de negócios e empreendedor em Kerala:
No dia 11 de janeiro, ainda, o pessoal do Rotary de Kundara nos levou para um belíssimo passeio pelos canais de "backwater" de Kollam:


Abaixo, reunião no Rotary Club de Kundara, dia 11. Cantamos o hino nacional brasileiro e uma música do Tom Jobim. Parece que gostaram...

domingo, 17 de janeiro de 2010

Kerala


Um pouco sobre Kerala...
Área 38, 863 sq.km
População: 31,838,619 (2001 census)
Língua: Malayalam

Capital: Thiruvananthapuram
Aeroporto: Thiruvananthapuram, Kochi, Kozhikode
Maiores cidades: Thiruvananthapuram, Kollam, Kottayam, Alappuzha, Kochi, Trissur, Palakkad, Kozhikode, Kannur



Kerala:
Sobre o que nós brasileiros estamos aprendendo sobre Kerala:
1. Kerala tem índices de desenvolvimento de primeiro mundo. Não há analfabetismo, as taxas de mortalidade infantil são muito pequenas. Não há mendigos – não vimos nenhum até agora, e não há favelas, de nenhuma espécie.
2. Não há bairros de pobres e bairros de ricos. Há uma mistura interessante de padrões e as casas tem muros baixos. As casas tem terrenos grandes e muito verde, apesar as enorme população. Áreas rurais se misturam com as áreas urbanas, e não há um limite visível entre a floresta e a cidade.
3. Os homens usam saias, chamadas Dhothi, que são bem confortáveis considerando o calor intenso
4. O sistema ferroviário funciona com precisão e constância. Só em Kollam são 60 trens por dia que chegam e partem.
5. O transito é meio caótico, a mão é invertida, como os ingleses e os japoneses, não há calçadas, as vias são estreitas e é comum eles entrarem na contra mão cortando pela direita ou esquerda. Os carros buzinam o tempo todo para que não hajam acidentes.
6. Não há vacas nas ruas, e os elefantes só podem circular a noite, devidamente sinalizado.
7. As mulheres usam sáris e Churidar. Ninguem usa jeans ou tênis ocidentais. O Churidar é uma roupa um pouco mais moderna, composta de duas peças, com uma espécie de camisa comprida com mangas longas e um decote distreto em forma de arco, sempre acompanhada de um xale, de preferência de seda, em torno do pescoço e adornando a peça.
8. Todas as comidas tradicionais tem muito Curry, ou pimentas de outros tipos, e levam além de muitos condimentos, frequentemente óleo de coco.
9. As mulheres não podem dançar em público, a menos que seja num círculo íntimo, mas em ocasiões os homens se soltam, digamos, dançam por elas. As mulheres podem dançar em apresetações festivas.
10. A bebida é proibida em lugares abertos, as pessoas tomam discretamente em um canto, ou sala separada do publico. Só os homens bebem.
11. As pessoas tentam morar perto o templo de sua preferência.
12. As aulas começam as 9 da manhã e terminam 16 horas, e as aulas tem duração de 35 minutos cada. Os professores são extremamente respeitados e tem autonomia para corrigir duramente os alunos quando entendem necessário. O governo estadual dita padrões altos para a educação, e os alunos só tem 10 dias por ano de férias, em dezembro. Desde pequenos os alunos são treinados para falar em publico. É avaliado a postura, conhecimento específico de cada assunto, criatividade, assiduidade, pronúncia. Eles aprendem Malayalam, Hindi e Ínglês desde bem pequenos. Os professores da escola publica recebem pelo menos 15 dias de treinamento todo ano, e a escola é monitorada para averiguar se promove adequadamente a inclusão social, inserindo a maior quantidade possível de crianças provenientes das castas mais excluídas.
13. 20% dos profissionais formados pela Universidade Pública, que é a única existente em Kerala, vai trabalhar no exterior, principalmente no Silicon Valley, na Califórnia, o que é uma certa ironia, uma vez que em Kerala o Partido Comunista domina a política local faz 30 anos, instaurando um alto padrão educacional no estado.
14. Grande parte dos homens usa uma saia chamada Dothi, ou uma saia mais tradicional no estado chamada Mundhu. Esta é mais uma saia caseira, informal, que dá um pouco de trabalho pois existe a necessidade de fixar amarrando bem ao corpo, ajustando frequentemente. Já o Dothi é uma roupa mais conservadora, usado tanto na rua como em ocasiões formais.
15. De acordo com a Transparency International, é o estado menos corrupto da Índia


A Wikipedia ainda conta que:

Kerala
India Kerala locator map.svg
Localização do estado de Kerala na Índia
Capital Thiruvananthapuram
8° 28′ N, 76° 57′ E
Cidade principal Thiruvananthapuram
Idioma oficial Malaiala
Governador R.S. Gavai
Ministro Chefe V.S. Achuthanandan
Poder legislativo:
• Tipo
• Membros
Unicameral
141
Formado em 1 de novembro de 1956
Área 38.863 km²
População (março/2001) 31.841.374
Densidade demográfica 819 hab./km²
Total de distritos 14
Fuso horário UTC +5:30
ISO 3166-2 IN-KL
Website kerala.gov.in

Kerala é um dos estados da Índia e situa-se no extremo sudoeste do país. A sua capital é Thiruvananthapuram e a maior cidade é Cochim. Tem 38863 km2 de área e cerca de 32 milhões de habitantes em 2001. É banhado pelo Mar da Arábia a sudoeste e defronta com os Estados de Karnataka a norte e Tamil Nadu a leste, além de abrigar um exclave costeiro do Território de Puducherry, Mahé. A sudoeste do Estado, no Índico, fica o território das ilhas Laquedivas (Lakshadweep).

É um dos estados mais desenvolvidos da Índia, tendo uma taxa de alfabetização superior a 98%. A língua oficial é o malaiala.

Foi ao chegar à cidade de Calecute, actualmente neste estado, que Vasco da Gama completou em 1498 a descoberta do caminho marítimo para a Índia.

O estado tem origem na província de Travancore-Cochim, criada em 1949 pela fusão dos reinos de Travancore e Cochim. Em 1950 a província passou à categoria de estado e, em 1956, incorporou o distrito de Malabar, da província de Madrasta, passando a chamar-se Kerala.


Kerala é mencionada no antigo épico Mahabárata (800 a.C.), em vários capítulos como tribo, como região e como reino. A primeira menção escrita a Kerala é vista em uma inscrição em pedra do século III a.C.pelo imperador Asoka, onde é mencionada como Keralaputra. Essa região foi parte da antiga Tamilakam, e foi governada pelos cheras. Eles tinham relações comerciais extensivas com os gregos, romanos e árabes. No século I d.C., imigrantes judeus chegaram na região, e acredita-se que São Tomé visitou Kerala no mesmo século[1]. O Reino Chera e posteriormente as cidades-estado brâmanes Nair e Namboothiri tornaram-se potências na região[2]. Contato precoce com os europeus posteriormente deu caminho a lutas entre interesses coloniais e nativos. O Ato de Reorganização dos Estados de 1 de novembro de 1956 elevou Kerala a estado.

Sobre a Conferência do Distrito 3211 Kerala




9 de janeiro, 2010
വസന്തോല്സവ്!


Uma das conferências mais organizadas e interessantes que vi. 1255 rotarianos presentes e atuantes. O governador Koshy Panicker abriu a conferência lembrando o engajamento dos rotarianos do Distrito 3211 com os princípios e o caráter internacional de Rotary.








Palestras sobre Rotary, os princípios, sua sustentabilidade foram marcantes, incluindo a do representante do Presidente de RI, Nalin Fernando, que veio do Sri Lanka especialmente para o evento. Uma das palestras mais interessantes foi dada pelo ex presidente da Agência de Pesquisas Espaciais indiana, G. Madhavan Nar. Entre as várias coisas ele falou sobre a importância de se preservar a cultura e a geração de conhecimento local. Lembrou também das fortes desigualdades sociais da Índia, onde 80% da renda está com 8% da população. Lembra que nas inúmeras pequenas comunidades da Índia ainda há muita gente abaixo da linha de pobreza. De acordo com o Sr Nair, quase todos em Kerala tem alto nível de educação e saúde, mas isso não se reflete na maior parte da Índia. No entanto, aqui recuperar a qualidade de água de todos os canais é fundamental, e para o Rotary isso é uma preocupação a nível mundial. Cumprimentando os membros do IGE, lembra que a India e o Brasil tem desafios semelhantes:



1. O desenvolvimento trás inúmeras possibilidades de troca



2. O Comércio e a Educação tem que se desenvolver junto



3. O Rotary ainda tem que cumprir com a sua promessa para o mundo



Já o Ministro de Segurança de Kerala, Dr. Jakob Punnose, lembra que apesar dos índices de violência de Kerala estarem entre os menores do mundo, a polícia tem que se envolver mais com a população, e cuidar mais dos idosos também, se espelhando no exemplo dado pelo Rotary em suas atividades. Diz que apesar de Kerala ter um índice de homicídios menor que da Suíça (0,9 por 100 mil habitantes) ainda existem muitos idosos desasistidos.








O grupo brasileiro se apresentou a todos os presentes na conferência, e apresentamos uma versão do hino brasileiro em versões musicais de todas as regiões brasileiras. Nos colocamos a disposição de todos os rotarianos do distrito e recebemos muitos cumprimentos ao final. Sentimos um grande interesse das pessoas pelo Brasil, uma vez que para eles, somos parceiros mundiais como nações em desenvolvimento. Aqui, entregamos camisa de futebol para o "Supreme Star"Suresh Kumar, astro de hollywood, de bollywood, ladeados pelo governador Panicker, à esquerda.



O governador Koshy Panicker parabenizou a todos os clubes pelo sucesso do projeto “Heart to Heart”, que promove cirurgias complexas de coração a um custo reduzido graças a parcerias e à recursos obtidos pelos rotarianos do distrito. Mesmo sem subsídios da Fundação Rotária, neste momento. O Distrito já pode fazer 52 cirurgias, das 100 que se propõe até o final desta governadoria. Este é um projeto que podemos observar com atenção para aprendermos e talvez colaborarmos de alguma forma.



Em resumo, o que se verificou na conferência foi uma vontade muito grande das pessoas de se envolver com as questões fundamentais da sociedade. Naturalmente, no sábado a noite houve entretenimento também para todos, com muita música, dança e sessão de piadas. Muito e merecido sucesso, comemorado no dia seguinte por todos os que se envolveram na organização.